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A Vida Sexual Feminina

 

             A vida sexual se inicia no nosso corpo quando ainda somos um bebê, quando os cuidadores nos tocam desejando nossa existência, com aquele amor cheio de vontade de morder e apertar os pezinhos. Com aproximadamente 3 ou 4 anos, começamos a descobrir os genitais, e para nós a sensação de esfregar e mexer na vagina e no clitóris é geralmente muito prazerosa.

            A primeira menstruação é um momento muito importante na vida sexual feminina, inaugura uma nova fase fisiológica, emocional e espiritual. É quando nos tornamos cíclicas e temos a oportunidade de começar um caminho de auto conhecimento e desenvolvimento.

            As primeiras relações sexuais com outras pessoas também são passagens importantes na vida sexual, desde o primeiro beijo, o primeiro toque que carrega aquela outra intenção e energia, que no começo da nossa experiência vem tão integrada com a batida forte do coração.

            A gestação, o parto, a amamentação, cada um merecia um livro para descrever todo o vocabulário sexual que transmitem para nosso corpo, em sensações, emoções, abertura energética, potencial criativo, de Vida e de Amor.

            A menopausa e todas as suas intensas formas de chegar e se estabelecer, fechando a ciclicidade e proporcionando a integração da sabedoria de cada ciclo por que passamos, de cada ser que habitou nosso corpo, de tudo o que recebemos e de tudo o que expulsamos. A dança louca e sábia dos hormônios que transitam nosso corpo em cada fase, trazendo muitas oportunidades de aprender novas formas de relação com nosso corpo e com os outros.

            Tudo isso constrói o corpo e o movimento, é a música para a nossa dança existencial, é o caminho para a nossa busca, para o reencontro pelo qual nosso Ser anseia. Mas perdemos a ritualização e muitas vezes desdenhamos, por vários motivos mais antigos que nós, as oportunidades que o corpo feminino proporciona. Não nos conduziram de forma saudável no despertar da sexualidade feminina. Por muitos motivos, fomos privadas deste poder de amor e sabedoria.

            Por causa disso, e por que esse poder faz falta, existem muitos caminhos para retomar a potencialidade da sexualidade feminina, muitas formas de curar e desenvolver a partir do que temos hoje, cada uma de nós. E fazemos isso muito bem em grupo, nos curamos com muita amorosidade, e crescemos em saltos enormes, apenas por compartilhar com entrega e com o coração.

            

 

A construção da sexualidade

 

Sexualidade é uma palavra que tenta conter um universo em poucas letras. Nós, brincantes de fala, temos isso de nos comunicar através de signos que para cada receptor tem um significado muito diferente. E amplo, na amplidão do infinito. Assim é a sexualidade, palavra que, para mim, é símbolo de um movimento de alma que não tenho certeza se eu conseguirei traduzir.

A sexualidade é construída, e dela fazem parte amplidões e miudezas. A história da nossa espécie está na nossa sexualidade, e também de que modo se conta essa história. O legado cultural que recebemos, e como a cultura se relaciona com os temas sexuais, a história do nosso país, dos homens e das mulheres. A história dos gêneros não binários. A moral, os costumes, os mitos, as histórias pra boi dormir, as músicas e as danças. A socialização das crianças, as estruturas familiares, os papeis sociais. O dinheiro, a economia, a circulação e a distribuição das trocas, dos serviços, dos produtos, das informações. Todos estes rios se encontram na sexualidade.

E ainda os córregos: a história da ancestralidade de cada um de nós, nossa história pessoal desde o ventre quente da mãe, o bebê que fomos, a criança que nos permitiram ser, a primeira menstruação, as masturbações infantis, os elogios que recebemos e os que não recebemos, as primeiras relações sexuais, as relações afetivas, o desejo, a falta, as falas, as gargalhadas soltas, as mulheres da nossa vida, os homens da nossa vida, cada abraço, toque, beijo, afago, cada gota de sangue que escorreu da nossa vagina, um ciclo atrás do outro, a falta da vagina, a falta do ciclo, a gestação, o parto, o pós parto, a amamentação, o gozo, o certo, o errado. As pernas abertas, as pernas travadas, o vento no cabelo solto, o quadril balançando na água do mar.

Tudo desemboca aqui e agora, neste oceano que nosso corpo tenta conter. E ele não consegue, então parte se transforma em fantasia, parte em medo, parte em Vida, parte em Criação, parte em puro prazer de existir, sem palavras, sem símbolos, só aquela sensação de algo passando e retornando ao nosso corpo.

Quando olhamos com consciência para este oceano majestoso que é a nossa sexualidade, podemos pensar em aproveitar sua força, e não apenas se deixar levar por estas águas. Podemos aprender a nadar, ou construir uma canoa, um barco. Podemos ter uma relação com estas águas de nutrição, respeito profundo, aceitação, e assim como o mar oferece tanto ao ser humano, podemos também receber muito da nossa sexualidade.

Essa possibilidade está aberta, cada uma de nós pode continuar o trabalho de construção da sexualidade, de uma forma muito individual, mas juntas. Aprendendo truques, jeitinhos, olhares e posturas. Música e dança. Com muita consciência e amor. Alguma mágica linda acontece quando nos juntamos, e talvez todos os nossos oceanos juntos nos trazem a sensação de unidade profunda, de retorno para Casa.

O convite está feito.

 

Sexualidade Feminina Integrada e Ampliada

 

A sexualidade feminina é potencialmente criadora, nutridora, e pode ser um caminho para o auto conhecimento e o desenvolvimento espiritual. A sexualidade é construída, e dela fazem parte os valores culturais, sociais, ancestrais. Na nossa história pessoal também são forjados os elementos que compõe esta colcha de retalhos em que se transforma a nossa sexualidade.

Desde muito cedo estes traços se desenham, antes de sermos concebidas no ventre da nossa mãe, ainda quando ela brincava de boneca e tecia sua expectativa sobre a menina que teria. Quando nascemos, todo o toque que nos traz sensação de segurança e de contorno corporal, todo elogio que constrói a auto estima e a auto imagem, os exemplos femininos e masculinos, nosso corpo e suas relações com o ambiente e com os outros: tudo forma a riqueza sexual que nós somos.

A nossa anatomia e fisiologia, proporciona para nós, mulheres, a conexão profunda com a natureza e com seus ciclos, nos direciona para dentro e para fora, em um pulsar natural e consciente da vida. Cada experiência sexual que nos compõe no cotidiano, como um abraço demorado, um bolo que preenche o paladar, uma flor e seu cheiro, uma risada que sacode todo o nosso corpo, um encontro sexual de entrega e conexão, nos dá a possibilidade de viver com prazer, alegria e gratidão.

É um caminho muito particular, construído individualmente de forma artesanal e peculiar, mas que nos fornece muito quando estamos em grupo. As mulheres, quando em grupo, se curam, se fortalecem, se nutrem. E a sexualidade é a energia que impulsiona todo nosso movimento de Vida.

 

Patrícia Loraine

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